A captação de recursos via Lei Rouanet alcançou R$ 765,9 milhões no primeiro semestre de 2025 — o maior valor já registrado desde a criação do mecanismo. Esse montante representa um crescimento significativo em relação ao mesmo período de 2024. Atualmente, cerca de 4.588 projetos culturais estão em execução em todo o país via Rouanet.
Crescimento justificado — mas para quem?
Para o governo, o recorde demonstra renovada confiança de investidores privados e públicos no fomento à cultura, além de um movimento de “democratização regional”: há novos programas para ampliar o alcance da Lei a regiões menos favorecidas.
No entanto, críticos apontam que grande parte dos recursos acaba na mão de artistas já consolidados e financeiramente confortáveis — o que levanta a questão: até que ponto é justo usar incentivos públicos para sustentar quem já tem sucesso e renda expressiva, em vez de apoiar projetos emergentes ou comunidades culturais periféricas?
Um debate sobre equidade no incentivo à cultura
O volume recorde de recursos chama atenção para vários fatores:
O risco de que recursos públicos, via renúncia fiscal, acabem privilegiando “carreiras seguras” em vez de dar espaço para novos talentos; A possibilidade de desigualdade: artistas consagrados com grandes estruturas têm mais facilidade de captar patrocínio do que coletivos menores ou iniciativas locais — perpetuando uma lógica de centralização cultural; A necessidade de transparência e critérios mais rigorosos para definir quem realmente merece o apoio estatal, priorizando diversidade, inovação e inclusão social.
Por que o alerta é importante
O recorde da Lei Rouanet poderia ser celebrado como um grande avanço para a cultura nacional — e, de fato, em muitos casos, representa oportunidades reais para eventos, espetáculos e produções artísticas. Mas é essencial que esses investimentos não se convertam em privilégios constantes para quem já está bem posicionado, ignorando iniciativas menores, criativas e com impacto social real.
A discussão sobre incentivo à cultura não deve focar apenas na quantidade captada, mas em quem recebe — e se os recursos estão sendo usados para promover democratização cultural ou manter o status quo.







