Na política — especialmente nos bastidores do poder — nada acontece por acaso. Quem ainda acredita em neutralidade absoluta no jornalismo praticado pelo Grupo Globo precisa observar com mais atenção os movimentos recentes. Algo mudou. E mudou de forma significativa quando o alvo passou a ser Alexandre de Moraes, um dos homens mais poderosos da República.
Após a prisão de Jair Bolsonaro e o cerco intenso a seus aliados na chamada trama golpista, a narrativa parecia consolidada. O inimigo estava definido. Mas, de repente, o foco começou a se deslocar. Não é coincidência que o Jornal O Globo tenha iniciado uma sequência de reportagens e colunas críticas a Moraes, especialmente por meio de textos assinados por Malu Gaspar, com revelações semanais de alto impacto.
A mais recente é particularmente sensível. Segundo a coluna, Alexandre de Moraes teria procurado o presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo, ao menos quatro vezes para tratar da situação do Banco Master. Antes disso, o próprio jornal já havia revelado que Viviane Barci de Moraes, esposa do ministro, teria firmado um contrato estimado em cerca de R$ 129 milhões para atuar na defesa jurídica da instituição. Informações desse porte não surgem ao acaso nem chegam a uma grande redação sem aval interno.
O que se desenha é um movimento clássico do poder em Brasília. Depois de ajudar a destruir politicamente seu principal adversário, Jair Bolsonaro, o sistema começa a voltar suas armas contra alguém que cresceu demais dentro dele. Alexandre de Moraes se tornou centralizador, acumulou protagonismo, passou a ser temido. No Supremo Tribunal Federal, assumiu o papel de xerife, conduzindo inquéritos, decisões e embates que moldaram o cenário político dos últimos anos.
Em Brasília, porém, há uma regra não escrita: quem concentra poder demais vira alvo. E o desgaste atual de Moraes não parte da direita, nem da oposição mais ruidosa, mas do próprio sistema que o fortaleceu. Os vazamentos, as informações sensíveis e a mudança no tom da cobertura sugerem fissuras internas. Há ministros, há setores do poder, que passaram a enxergar Moraes não mais como solução, mas como risco.
Quando o clima chega a esse ponto, o sistema reage. Ele cria, usa e descarta. Alexandre de Moraes começa agora a experimentar o efeito do remédio que ajudou a formular. E quando a Globo entra em campo com munição pesada, a mensagem é clara: o jogo virou, e ninguém é grande demais para ficar fora da mira.







