“Você tem um tumor.” Foi com essa frase que a cartunista Laerte Coutinho, colunista da Folha, recebeu o diagnóstico de câncer de próstata após exames de rotina em 2023. Aos 72 anos, Laerte — uma mulher trans — buscava respostas para dores que atribuía à idade, até que um PSA alterado e uma biópsia confirmaram a doença. Ela lembra que, cerca de vinte anos antes, já havia tratado uma hiperplasia prostática benigna, mas abandonou o acompanhamento médico e hoje admite que subestimou os riscos. Para ela, parte desse descuido vem de uma cultura que ainda reforça a ideia de que homens não precisam ir ao médico, crença que considera perigosa.
A história de Laerte reforça um tema essencial: mulheres trans também têm próstata e podem desenvolver doenças nesse órgão, incluindo o câncer. Esse alerta é reforçado por especialistas como o cirurgião Dr. José Martins, que explica que, mesmo quando a pessoa passa por cirurgias de afirmação de gênero, a próstata quase sempre é mantida, pois removê-la pode trazer complicações como incontinência e sangramentos, além de não ter impacto na identidade de gênero. Por isso, durante campanhas como o Novembro Azul, ele defende que a saúde de pessoas trans seja tratada de forma explícita e não invisibilizada.
O risco de câncer de próstata em mulheres trans varia conforme o tipo de transição. Em casos de terapia hormonal com estrogênio e bloqueio de testosterona, a chance pode ser menor, já que a testosterona é um dos principais fatores de estímulo do tumor. Ainda assim, o risco não desaparece. Médicos recomendam que mulheres trans façam exames preventivos, como o PSA, principalmente após os 50 anos, ou antes, em situações de histórico familiar, obesidade ou maior vulnerabilidade genética. No caso de Laerte, que não realizou reposição hormonal nem cirurgia genital, o risco permaneceu semelhante ao de homens cis.
Diante do diagnóstico, Laerte optou por uma prostatectomia radical por laparoscopia, realizada em dezembro de 2023. Ela afirma que receber a notícia foi duro, mas ouviu de sua geriatra que o câncer de próstata pode ser um dos mais controláveis quando descoberto cedo. Tanto o caso de Laerte quanto a orientação de especialistas mostram que o cuidado com a próstata precisa incluir mulheres trans e outras pessoas com esse órgão. Saúde não é definida por gênero, mas por informação, prevenção e acesso a tratamento adequado.
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As campanhas de prevenção no Brasil já tratam a saúde de pessoas trans com a seriedade que deveriam, ou ainda existe invisibilidade nesse cuidado? Deixe sua opinião nos comentários!






